A entrevista foi concedida num clima informal, durante almoço de confraternização dos integrantes do
Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro (COA-RJ). Como você confere a seguir, Rajão traz algumas curiosidades sobre sua trajetória e um pouco da história do passeio, que em fevereiro de 2017 irá completar 15 anos de existência.
Entrevista com Henrique Rajão
Aves & Árvores: Como surgiu a ideia de um encontro para observação de aves no Jardim Botânico do Rio?
Henrique Rajão: Tudo começou em 2002, quando fui contatado pelo então presidente da
Associação dos Amigos do Jardim Botânico, que me disse que um sócio não identificado havia doado vários binóculos, para serem utilizados dentro do Jardim. Daí surgiu a ideia do passeio.
Aves & Árvores: O que achou da ideia?
Henrique Rajão: De início recusei, argumentando que era um "cientista" e não um guia turístico. Após alguma insistência conduzi o encontro que para mim seria o único. Ao final, os participantes ficaram entusiasmados e cobraram uma nova data e o encontro se tornou rotina. Com o tempo percebi a importância dessa integração do ponto de vista da ecologia urbana. O fato é que esse é um encontro pioneiro no Brasil e tem se repetido, mesmo em dias de chuva, ao longo dos últimos 15 anos, que serão completados agora em fevereiro de 2017.
Aves & Árvores: Como descobriu o gosto pelas aves?
Henrique Rajão: Eu gosto de natureza desde pequeno, mas sempre fui apaixonado por mar. Eu morei em Paquetá a minha infância toda e não ligava a mínima para as aves. Gostava de peixe, de polvo, entrei na biologia para fazer biologia marinha. Eu tinha certeza absoluta disso, desde 5 anos de idade.
Aves & Árvores: Quando isso mudou?
Meu primeiro estágio foi em biologia marinha. Foi quando eu vi que não era essa coisa toda, não me encantei tanto. Eu tinha medo de tubarão e mergulhei em lugares com águas turvas, em Angra dos Reis, em um lugar atrás da usina nuclear. Era bem diferente das águas do Caribe que povoavam minha imaginação. Então, na faculdade, por volta do segundo para o terceiro ano, aceitei um convite para fazer estágio em uma fazenda no Pantanal.
Aves & Árvores: O que te encantou no Pantanal?
Henrique Rajão: Esse estágio era para durar uma semana, mas fiquei por lá três meses, com uma única bermuda e sem camisa. Na maior parte do tempo trabalhei com jacarés, até que na última semana fui encarregado de fazer o levantamento das aves da fazenda. Na época me deram um binóculo e um guia de campo do
Dalgas Frisch. As pessoas achavam que eu tinha morrido, porque saía 4h e retornava lá pelas 22h. Eu lembro das
Araras-azuis voando ao pôr-do-sol, com aquele barulho vindo de longe, algo de arrepiar. Era uma sexta-feira, por volta das 18h30 e uma colega me perguntou: já imaginou como está a cidade de São Paulo a essa hora, com engarrafamento, buzinas? Quando saí de lá botei na minha cabeça que queria trabalhar com a arara-azul.
Aves & Árvores: Foi nesse dia que decidiu ser ornitólogo?
Henrique Rajão: Não exatamente. Depois desse estágio fui trabalhar com sapos na
Ilha do Cardoso e lembro de um dia de neblina na mata, no pico de uma montanha, um pequeno beija-flor voando, peguei então uma fichinha de campo em que escrevi:
"decidi em caráter irrevogável que vou trabalhar com ornitologia".
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Ficha de campo de Henrique Rajão (10/04/91)
em que registrou o desejo de ser ornitólogo
(foto: arquivo pessoal) |
Aves & Árvores: Tem uma ave preferida?
Henrique Rajão: Tem um passarinho de que gosto muito: a
saíra-militar. Ela tem uma faixa vermelha ao redor do pescoço, um absurdo de bonita, mas não aparece com tanta frequência no Jardim.
Aves & Árvores: E dentro do Jardim Botânico, gosta de alguma área em especial?
Henrique Rajão: Talvez a "região amazônica", por ser uma mata fechada, alta, bonita.
Aves & Árvores: Quando está passeando em família, consegue se desligar das aves?
Henrique Rajão: Não sou "viciado" em aves. Gosto de estar em contato com a natureza em geral.
Aves & Árvores: É verdade que tem simpatia pelo budismo? Consegue meditar na mata?
Henrique Rajão: Gosto muito dos textos do monge budista vietnamita
Thich Nhat Hanh. Já a meditação, é curioso, não pratico na mata, talvez por estar concentrado nas aves, mas em casa.
Pílula ecológica
A pílula ecológica de hoje não poderia ser diferente: compareça ao Encontro de Observação de Aves no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, conduzido pelo ornitógico Henrique Rajão, que acontece todo último sábado do mês, às 8h da manhã, em frente ao Café Botânica, dentro do Jardim (detalhes sobre o estacionamento podem ser acessados
aqui).
O encontro é gratuito, mas para não associados é cobrado ingresso de R$ 15,00 (valor atualizado até janeiro de 2017). Regras sobre meia entrada e outros detalhes podem ser acessados
aqui.