Passarinhando na Enseada de Botafogo


Periquitos-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri)
em Paineira-das-escarpas (Ceiba erianthos)

4 MIN, DE LEITURA

Já faz bastante tempo desejava percorrer a enseada de Botafogo para fotografar a avifauna local. Durante anos utilizei transporte público no trajeto ao trabalho e tive o privilégio de poder desfrutar da natureza exuberante do Aterro do Flamengo, que faz divisa com a enseada do bairro vizinho, através da janela dos ônibus que costumava utilizar.

Naquela época, cerca de cinco ou seis anos atrás, antes mesmo de iniciar no "birdwatching", comecei a me interessar por conhecer melhor as espécies de árvores do Rio de Janeiro. É de fato impressionante a beleza dos projetos paisagísticos da cidade, não há um só mês em que alguma árvore não esteja em floração ou frutificação.

O que me impedia de fotografar ali não chega a ser novidade para o morador da metrópole: a falta de segurança, ou ao menos a sensação de que a qualquer momento poderia ser assaltado me refreava toda vez que a vontade surgia. Como muitos sabem, o ideal para fotografar aves é acordar bem cedo, pois a luz é favorável e elas costumam ser mais ativas no início da manhã. Por outro lado, nessas horas não há muito movimento nas ruas.

Na última semana de agosto a vontade falou mais alto e iniciei uma caminhada a partir do Monumento a Estácio de Sá em direção à Praia de Botafogo. Havia uma boa quantidade de pessoas se exercitando, o que me deixou de certo modo à vontade com o equipamento, porque essas práticas de lazer ao ar livre  - pude perceber naquele momento - acabam contribuindo para a segurança e o bem-estar coletivo (por coincidência, alguns dias depois li sobre essa relação em excelente entrevista concedida por uma pesquisadora internacional à Folha de São Paulo).

Minha intenção inicial era fotografar os Trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirundinacea), aves migratórias recorrentes na costa da América do Sul e nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, o que consegui após um razoável número de tentativas, e fui sorteado ainda com o registro inesperado de um Trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus). As duas espécies podem ser vistas abaixo em sequência, na ordem em que apresentadas aqui.


      


Bom mesmo foi ser surpreendido com uma espécie de psitacídeo que ainda não tinha observado na natureza e que descobri que tem relativa ocorrência no Aterro do Flamengo: os Periquitos-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri), que durante vários minutos se fartaram das sementes do fruto de uma desfolhada Paineira-das-escarpas (Ceiba erianthos), facilitando o registro fotográfico. Além da foto que inicia a matéria, fiz o registro em vídeo desse momento muito especial.




Avistei ali outras espécies que já esperava encontrar, como Gaivotões (Larus dominicanus), Bem-te-vis (Pitangus sulphuratus), Fragatas (Fregata magnificens) e os Quero-queros (Vanellus chilensis), estes últimos quase sempre presentes na areia da Praia de Botafogo e ao longo de boa parte do gramado de todo o Parque do Flamengo.


Bando de Quero-queros nas areias da Praia de Botafogo

Como os registros não me deixam mentir, a passarinhada foi bem produtiva e, ao menos naquele dia, razoavelmente segura, compensando qualquer receio que poderia ter em visitar o local para passarinhar.


Pilula Ecológica

Ao final do passeio observei uma movimentação de pessoas junto às pedras que ficam na parte mais à esquerda da enseada de Botafogo. Qual não foi minha surpresa ao verificar que se tratavam, em sua imensa maioria, de estrangeiros residentes no Brasil que faziam um trabalho voluntário de limpeza da praia, retirando todo tipo de plástico que, lamentavelmente, ainda é lançado ao mar por muitas pessoas.


Estrangeiros residentes no Brasil dando exemplo de cidadania

Esse grupo tem uma comunidade no Facebook chamada Amigos do Mar do Rio e costuma se reunir a cada dois meses em diferentes praias da cidade para fazer um mutirão de limpeza. Prometi a eles que divulgaria essa bela ação aqui no site, e também que tentaria participar do próximo encontro. 




Se você quiser participar do próximo mutirão ou apenas divulgar essa bela iniciativa, basta acessar a página do grupo para mais informações, clicando aqui.

Por Cristiano Pedras

(publicado em 03/09/2018)



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6 comentários:

  1. Sensacional esta matéria! Além de ilustrar estas aves migratórias, ser surpreendido pelos periquitos foi demais! Showzaço filho! Parabéns !!

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  2. Também tenho vontade de ir passarinhar por lá, mas o medo de ser assaltado é bem grande. O que você me recomendaria para minha segurança?

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    1. Recomendo que se filie ao Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro (COA-RJ), se for do Rio. Passarinhar em grupo é sempre mais seguro. Um abraço!

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